Em 1962, Manoel dos Santos, o Garrincha, acabara de ganhar a Copa do Mundo no Chile. O Botafogo disputava o carioca e se encontrava a seis pontos do líder Flamengo. O craque alvinegro, envolvido com a cantora Elza Soares, reclamava do salário com os dirigentes. Naquele momento o anjo de pernas tortas ganhava menos que Amarildo. Sem acreditar nas histórias de miséria contadas pelo amante, Elza foi, pessoalmente, conferir como viviam Nair e sete filhas do craque na modesta casa em Pau Grande. Era verdade. Nilton Santos e o jornalista Sandro Moreyra, melhores amigos, descobriram dinheiro de todas as nacionalidades escondidas em fogão, colchão e vasos de flores. Mané não sabia administrar o que ganhava.
Como aumento, recebeu, dos dirigentes, um apartamento em Copacabana, cujo valor estaria bem abaixo do que pretendia ganhar. Mais uma proposta ouvira destes: Se o Botafogo conquistasse o bi-campeonato carioca, voltariam a conversar sobre salários. O Flamengo, então, por um milagre, perdeu seus últimos jogos, deixando o Botafogo encostar. Na decisão, o craque destruiu a defesa rubro-negra e o alvinegro venceu com três gols seus.
Nelson Rodrigues, então, escreveu o seguinte: "Só houve em campo um nome, uma figura, um show: Garrinhcha. Os outros três campeões do mundo estavam lá também. Mas, Didi, Zagalo e Nilton Santos, pertencem à miserável condição humana. São mortais e suscetíveis de todas as contingências da carne e da alma...Garrincha, não. Garrincha está acima do bem e do mal. Ninguém mais ágil, mais plástico, mais alado...Garrinhcha não pensa. Tudo nele se resolve pelo instinto, pelo jato puro e irresistivel do instinto. E, por isso mesmo, chega sempre antes, sempre na frente, porque jamais o raciocínio do adversário terá a velocidade genial do seu instinto. Terminado o jogo, saímos do estádio com a ilusão de que tínhamos visto não um jogo, não dois times, mas uma figura única e fantástica: Garrincha."
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